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O artista que faturou o Prêmio Shell de melhor ator por seu personagem na peça O Pai, em cartaz no Teatro Renaissance, fala com exclusividade à Expressão sobre os seus mais de 60 anos de carreira e as transformações que presenciou na dramaturgia brasileira!
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A trajetória profissional do ator se confunde com a própria história da televisão brasileira. Fúlvio começou na TV aos 15 anos. Fez programas ao vivo, como o teleteatro Crime e Castigo (1956), na TV Tupi. Da Tupi, Stefanini foi para a Excelsior. Ao longo da carreira, Stefanini fez mais de 40 novelas e 30 peças. Com seu trabalho em Caixa 2, ganhou o Prêmio Shell de melhor ator de teatro. E, ano passado voltou a receber o prêmio de melhor ator por seu papel na peça O Pai, que tem direção de seu filho, Léo Stefanini. No cinema, atuou em mais de 10 filmes, entre eles Nelson Ninguém (2013), Cilada.com (2011), Quincas Borba (1987) e Cabeça a Prêmio (2009), que lhe rendeu uma menção honrosa de melhor ator de cinema no Festival do Rio. Também teve programa de rádio, fez diversas locuções, anúncios, além de narrações, como a do filme Pelé Eterno (2004) e a apresentação da Família Soprano na HBO. Atualmente o grande ator é o protagonista da peça O Pai, de Florian Zeller. A obra é considerada um fenômeno mundial. Em cartaz no teatro Renaissance, em São Paulo, e também em mais de 30 países. Na França ganhou os Prêmios Molière, o mais importante do teatro francês. Na Inglaterra, foi eleita “a melhor peça do ano” pelo The Guardian. Ganhou ainda os palcos da América do Sul, África e Ásia, sempre aclamada pela crítica, que não poupou prêmios às diversas montagens. O espetáculo retrata com requintado humor e sensibilidade as vidas de um pai e de uma filha. As transformações trazidas pelo tempo, pela idade e pela convivência familiar. Tudo tratado de maneira poética, lúdica, romântica. O PAI é uma obra que transforma lágrimas em risos. E risos em lágrimas. Confira a entrevista completa com esse grande ator da nossa dramaturgia:
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Expressão: Com 62 anos de carreira e 41 novelas no currículo, além de prêmio Shell de melhor ator. A que atribui tamanho sucesso profissional?
Fúlvio Stefanini: Eu não sei exatamente, mas acredito que seja a experiência profissional, depois de tantos anos de carreira, tantas peças, novelas, filmes que fiz, participações em programas diversos, é óbvio que com o tempo você vai adquirindo uma experiência muito grande e acaba utilizando isso. Eu acho que no caso da peça O pai, por exemplo, além da experiência, ela também é um papel de um personagem maravilhoso que não é toda hora que acontece. Caiu no meu colo, então eu não iria rejeitar esse personagem de jeito nenhum, eu abracei com todas as forças e acho que deu certo. O espetáculo faço com os meus colegas, com a direção do Léo, meu filho, acho que tudo foi dando certo e acabei levando esse prêmio, por essas razões.
Expr.: O Pai, de Florian Zeller é considerado um fenômeno mundial. Atualmente está em cartaz em mais de 30 países. A que atribui todo sucesso da peça?
F.S.: O sucesso dessa peça se deve a sua qualidade teatral, é uma peça extremamente verdadeira e humana, ela dá margem a diversas leituras e também a bons espetáculos. Tivemos a oportunidade de ver o espetáculo da peça em Buenos Aires e lá era bem diferente do nosso. Por exemplo, eles privilegiaram o lado mais humorístico da peça e, aqui nós pretendemos e, acho que conseguimos, fazer um espetáculo absolutamente humano, verdadeiro, realista e que toca muito as pessoas, então por muitas razões essa peça realmente tem qualidades fantásticas, para os atores e para a direção. É uma peça de teatro como há muito tempo não se vê.
Expr.: A peça discute a conturbada relação entre pai e filha. Qual a sua opinião sobre como se estabelece a relação dos pais com seus filhos, na nossa geração? Acredita que a criação tenha mudado? De maneira positiva ou negativa?
F.S.: É muito forte essa coisa da família, a relação de pais e filhos. Claro que sempre existem problemas de comportamento, de costumes e uma série de coisas, diferenças culturais, às vezes, mas é fundamental porque ela é muito visceral. É muito coisa de sangue, coisa da família, força da família, do amor que as pessoas têm pelos seus e isso obviamente, além de estar presente em todas as famílias, também gera muitos conflitos. As famílias brigam, porque quanto maior a aproximação, maior também a possibilidade de desavenças, de conflitos, de discussões, mas acho que a peça de uma certa forma, embora não discuta esse aspecto especificamente, mas fica bem claro também o amor desse homem pelas filhas, pela filha que já não está mais ai, já morreu e a filha que é cuidadora dele, que fica dividida também entre o pai e novo marido. Todos esses conflitos estão presentes nessa peça, então acho que é por ai, conflito de gerações, conflitos de família é bem comum.
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Expr.: Nos adiante seus futuros projetos profissionais?
F.S.: Os projetos pessoais vão acontecendo na medida em que a vida vai correndo e você vai ou aceitando ou então rejeitando, dependendo do que se trata etc. Então na minha idade a gente já não pensa muito em projetos, ficamos em casa esperando que alguém esteja pensando em alguma coisa pra gente, mas sempre acontece. Agora mesmo eu já tenho uma minissérie para gravar, estou fazendo novamente a locução, a narração dos episódios, do filme ‘’Pelé Eterno’’ e muitos convites que aparecem tanto de teatro, como de televisão e, eu vou filtrando, enfim depois de certos anos você filtra essas coisas, você faz aquilo que te agrada mais.
Expr.: Como é acompanhar a evolução da teledramaturgia. O que mais mudou em sua opinião?
F.S.: Em 62 anos de carreira é claro que passei por diversas fases, autores, diretores, elencos e você sempre obviamente aproveita alguma coisa. Você nunca desperdiça todas as oportunidades que têm para aumentar um pouco seu conhecimento a respeito daquilo que você faz. Eu, por exemplo, acompanhei vários momentos da dramaturgia brasileira, da teledramaturgia também, eu acho que hoje nós amadurecemos em algumas coisas. Por exemplo, a novela hoje é muito mais dinâmica, rápida, mas em compensação também não tem, as vezes, a mesma preocupação com a qualidade que tinha antigamente. A tecnologia avançou muito e passou quase como um trator por cima de diversas coisas. Eu acho que nós fazemos uma televisão de grande categoria, tanto é que vendemos ao mundo inteiro, mas penso que as vezes, os temas são explorados de forma superficial. Não há tanta profundidade. A televisão é assim, ela é rápida, urgente, descartável, então a teledramaturgia também. Em teatro, passei por diversas fases também acompanhei desde o começo do teatro de arena, enfim eu lembro do TBC, por exemplo. Eu ia ao TBC, e as coisas foram mudando ao longo do tempo e chegamos a fazer espetáculos maravilhosos, com atores fantásticos. Eu acho que hoje em dia, algumas pessoas, alguns atores, alguns produtores estão preocupados com a qualidade do que fazem, mas nem todos. As vezes pinta um espetáculo nosso por exemplo, sem querer puxar sardinha para nossa brasa, eu acho que faz parte de um número reduzido de bons espetáculos dos últimos anos.
Expr.: Para finalizar conte-nos quem são seus filósofos e pensadores preferidos?
F.S.: Essa pergunta é curiosa, mas os meus filósofos e pensadores são tantos, porque são, ou os meus personagens, ou são as pessoas que eu conheço. As pessoas que eu observo, então isso pra mim é um grande ensinamento. E, as vezes, têm pessoas que também falam coisas incríveis, ao qual eu considero assim como os grandes pensadores. Então não são aqueles tradicionais da literatura, aqueles filósofos estão já conhecidos de todos, que fazem parte da biblioteca de tantas pessoas, são mais as pessoas com quem eu convivo mesmo, eu aprendo muito com essas pessoas, aprendo demais e são meus grandes professores.
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