Segundo o Ministério da Saúde, o Coronavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus foi descoberto em 31/12/19 após casos registrados na China. Provoca a doença chamada de coronavírus (COVID-19). Os primeiros coronavírus humanos foram isolados pela primeira vez em 1937. No entanto, foi em 1965 que o vírus foi descrito como coronavírus, em decorrência do perfil na microscopia, parecendo uma coroa. Segundo o órgão público, o período de incubação (tempo que leva para os primeiros sintomas aparecerem desde a infecção por coronavírus) pode ser de 2 a 14 dias. Confira a entrevista na íntegra, com o especialista.
Expressão: Afinal, o que é o COVID-19? E o que faz ser tão perigoso?
Dr. Fernando Bizarria: O coronavírus (COVID-19) é uma doença infecciosa causada por um novo vírus que nunca havia sido identificado em humanos. O vírus causa uma doença respiratória semelhante à gripe e tem sintomas como tosse, febre e, em casos mais graves, pneumonia. Ele é perigoso por causa da sua transmissão, que é feita por meio de gotículas de saliva, tosse, espirros ou coriza. É silencioso, você nunca sabe quem está com o vírus, por isso é necessário todo o cuidado com o vírus e é isso que mostra a importância da prevenção e do isolamento. Vale lembrar que o Sars-cov-2 é o tipo do vírus (é a família específica do vírus), já o Covid-19 é a doença causada pelo vírus. Exemplo o paciente foi infectado pelo sars-cov-2 e por isso agora ele está diagnosticado com a doença COVID-19.
Exp.: Qual a melhor forma de enfrentarmos ele?
F.B.: Com calma. Ansiedade e desespero só fazem piorar o cenário. Os cuidados básicos:
Lavar as mãos com água e sabão, pelo menos a cada hora e uma lavagem bem-feita, em todos os dedos e superfícies das mãos. Use o álcool gel – esse processo não substitui a lavagem das mãos. Ou seja, quando as pessoas forem sair de casa para ir ao mercado, por exemplo, é essencial ter um álcool gel para higienizar as mãos e o carrinho de compras.
Não coloque as mãos sobre o rosto, em caso de precisar sair de casa. Sempre que sair de casa, de preferência deixar o chinelo para fora da porta e se possível, colocar a roupa para lavar e ir ao banho. Se informar, ter cuidado com notícias falsas: não existem remédios caseiros, não existem vacinas, o Coronavírus não é um vírus inventado pela china e entre outras notícias falsas que se espalham. Por isso, a importância de ter fontes confiáveis e como médico sempre falo: acreditem na ciência e na OMS.
Cuide da sua saúde mental: como médico, atuo de frente no cenário e posso dizer que é preciso buscar atividades que distraiam a mente. Se informar é bom, mas em dose adequada. Não vá ao hospital se não estiver com os sintomas do COVID-19.
Exp.: Muitos criticam as medidas do isolamento horizontal tomadas nos estados brasileiros. Qual a importância desse resguardo diante da pandemia?
F.B.: A quarentena é essencial e fundamental para o controle da pandemia. É a melhor forma de diminuir a curva de contágio do COVID-19. Quando ficamos em casa, protegemos a nós mesmos, a nossa família e toda a sociedade. Evitar a circulação no comércio local, trabalhos e escolas é importante para evitar aglomeração e, assim, fazer com que acontece um achatamento da curva do número de casos. E estar em isolamento social não quer dizer confraternização com os amigos, festinha. O isolamento permite que você tenha contato com apenas as pessoas que estão no mesmo ambiente que você. É necessário isso para que mais cedo possamos frear os contágios. Esse isolamento social não se restringe aos pacientes considerados como grupo de risco. É para todos. Acredito que o Brasil tenha reagido na melhor hora para não repetirmos os cenários da China, Itália, Espanha e EUA. É necessário sermos radicais.
Exp.: Acredita que o Isolamento Vertical pode ser eficaz?
F.B.: O Isolamento vertical é quando se isola apenas pessoas do grupo de risco e os que não são considerados do grupo de risco voltam à sua vida normal, para que a economia gire. Isso é totalmente ineficiente, pois qual o sentido de as pessoas de risco estarem em casa, seguras se as pessoas que não são do grupo, saírem para trabalhar e poderem se contaminar com o vírus e passar para as pessoas de risco? E outra, também existem vários casos de pessoas que não são consideradas do grupo de risco que pegam a COVID-19 de forma grave e chegam a ser internados na UTI. Para ser eficaz, o isolamento deve ser para todos, é uma ordem da OMS e estudos científicos mostram que deve ser assim.
Exp.: O Japão e a Coréia do Sul foram um dos primeiros países a constatar casos da doença, mas atualmente são os que melhor estão enfrentando a pandemia, mesmo sem tomar medidas drásticas. O que acredita ser o diferencial apresentado pelos países?
F.B.: Esses países possuem uma cultura de higiene muito forte, são acostumados a usar máscaras como uma rotina e também fizeram um isolamento social que ajudou a controlar o pico do contágio da COVID-19.
Exp.: Por que os idosos são os mais afetados?
F.B.: O sistema imunológico dos idosos costuma ser deficiente por causa da idade. Mesmo as vacinas tomadas na juventude já não são tão eficazes, portanto há menos anticorpos no organismo.
Os pulmões e mucosas tornam-se mais frágeis e vulneráveis a doenças virais. O idoso costuma engasgar e aspirar mais, inclusive levando mais a mão à boca, aumentando o risco de contágio. Ele também vai à hospitais com mais frequência, ficando mais exposto a micro-organismos.
Exp.: As crianças também podem sofrer consequências decorrentes do coronavírus (COVID-19)?
F.B.: Todos nós estamos expostos a sofrer consequências do Coronavírus. Por ser um vírus novo, ainda nãos se sabe muito sobre a ação do COVID-19 nos organismos, mas as pessoas dos grupos de riscos estão mais expostas ao vírus. Recentemente tivemos casos em jovens e crianças, até mesmo sem comorbidades, o que acende um sinal de alerta a todos e mostra que o isolamento social deve ser para todos.
Exp.: Segundo o Instituto Trata Brasil, nosso país tem 48% da população sem coleta de esgoto. Nesses casos, existe alguma alternativa para o controle de transição do vírus?
F.B.: É muito triste esse cenário, o que reforça a importância de políticas públicas que possam agir de forma urgente nesses locais precário, até mesmo de saneamento básico. Os governos devem agir urgente, tem pessoas que não possuem acesso a informação básica e muitas ainda nem sabem do vírus.
São necessárias ações nas favelas, nas ruas, no interior, nas aldeias…
Exp.: O que é esperado para os próximos tempos em relação ao crescimento da doença?
F.B.: É preciso cautela, as pesquisas mostram que o pico da doença vai aumentar muito nas próximas semanas de abril. Por isso reforço: fiquem em casa, é para o bem de todos.
Dr. Fernando Bizarria, médico especialista em imunologia.