É indiscutível que a lutadora Kyra Gracie (39) é uma verdadeira referência no jiu-jitsu e no empoderamento feminino. Como empreendedora, ela brilha não somente nos negócios, mas também na bela família que formou com seu esposo, o ator Malvino Salvador, e seus três filhos Ayra, Kyara e Rayan.
Com uma presença marcante nas redes sociais, onde já ultrapassa um milhão de seguidores, a carioca compartilha sua rotina e lições que auxiliam as mulheres e crianças com defesa pessoal, reação ao bullying infantil, treinos em casal e muito mais. Desde a infância, imersa na tradição da família Gracie, Kyra desenvolveu uma paixão profunda pelo jiu-jitsu, que a levou a romper barreiras e se tornar um ícone no esporte.
Em sua trajetória, sempre chamou a atenção por sua beleza, tendo sido convidada para ser modelo e atriz, mas resolveu focar no atletismo. Devido aos diversos campeonatos nos quais participou, morou durante três anos em Nova Iorque e dois anos em Los Angeles, e quando retornou ao Brasil em 2010 voltou a residir no Rio de Janeiro, onde trabalhou como comentarista esportiva e apresentadora nos canais Globo, Sportv e Combate. Ela foi a mais jovem a conquistar o Mundial Sem Kimonos, no ADCC, aos dezenove anos, sendo considerada por muitos como a melhor mulher lutadora da história do Jiu-Jitsu.
Aqui ela reflete sobre a importância do autoconhecimento e as dificuldades enfrentadas como mulher em um ambiente predominantemente masculino. Além disso, Kyra destaca suas iniciativas para promover a participação feminina no jiu-jitsu, incluindo o lançamento do icônico quimono rosa, que simboliza força e empoderamento.
Kyra também nos brinda com insights sobre seu livro “Viver como uma Campeã”, onde compartilha ferramentas valiosas para ajudar outras mulheres a se fortalecerem. Suas estratégias de defesa pessoal são um reflexo de sua filosofia de ensino na Gracie Kore, onde ela busca não apenas ensinar técnicas, mas também cultivar a autoconfiança e o respeito.
Mergulhe na inspiradora trajetória de Kyra Gracie, uma mulher que vive e ensina o verdadeiro significado de ser uma campeã.
Expressão: Como sua trajetória na família Gracie influenciou sua decisão de se tornar lutadora e empreendedora?
Kyra Gracie: Como uma legítima Gracie, eu ganhei um quimono quando era bebê. Tínhamos um tatame no terceiro andar da casa onde eu cresci. Levava minhas bonecas e ficava brincando de jiu-jitsu, pois é assim que as crianças aprendem. Já era um jiu-jitsu muito lúdico. Cresci assistindo aos meus tios e primos lutando, tanto em casa quanto nas competições; os torneios, aliás, eram os meus programas de fim de semana. Então foi uma coisa natural seguir o mesmo caminho.
Exp.: Você foi a primeira mulher da sua família a conquistar uma faixa preta em jiu-jitsu. Como foi essa experiência?
K.G.: Não havia nenhuma pressão de, por ser uma Gracie, eu precisar seguir no esporte, ainda mais por ser mulher. Sempre houve em minha família, o tempo todo, um incentivo para os homens treinarem, mas as mulheres não. Poder romper essa barreira de gênero e incentivar outras mulheres a praticarem o jiu-jitsu é motivo de muito orgulho para mim.
Exp.: Em seu livro “Viver como uma Campeã” – Editora Agir, você menciona a importância do autoconhecimento. Que ferramentas específicas você recomenda para mulheres que buscam desenvolver essa força interior?
K.G.: Uma pessoa sem autoconhecimento, sem autoconfiança, certamente terá problemas em diversas áreas da vida. Por isso, usar ferramentas de autoconhecimento e de inteligência emocional para trabalhar essa força interior nos faz prosperar em todos os aspectos. E é dessa forma que eu desejo que as leitoras sejam impactadas através do livro. Para isso, potencializei o que já faço com as minhas alunas, que é passar essas ferramentas – que estão muito presentes nos fundamentos do jiu-jitsu – para que elas apliquem em sua rotina e obtenham essa transformação tão necessária. Ser forte, corajosa, aceitar suas vulnerabilidades e valorizar o que você tem de melhor são algumas dessas ferramentas trabalhadas.
Exp.: Você lançou o quimono rosa em 2006 para incentivar a participação feminina no jiu-jitsu. Quais mudanças você percebeu na adesão das mulheres ao esporte desde então?
K.G.: O quimono rosa tem uma simbologia muito importante. Ele chegou para mostrar que as meninas podem sim lutar jiu-jitsu e se sentirem ainda mais à vontade nos espaços de luta. E hoje ver tantas mulheres vestindo esse quimono, empoderadas, só aumenta ainda mais a curiosidade e a vontade de outras mulheres conhecerem o nosso esporte. Ainda enfrentamos muito machismo no tatame na maioria dos espaços, mas seguiremos em frente para que essa realidade mude.
Exp.: Como foi o processo de escrita do seu livro e quais desafios você enfrentou durante essa jornada? Você acredita que sua história pode inspirar outras pessoas a superarem suas dificuldades?
K.G.: Tive a ideia do livro “Viver como uma Campeã” ainda na época em que competia, quando comecei a escrever um diário onde colocava todos os meus sentimentos antes, durante e depois das competições. Mesmo sendo muito vitoriosa no tatame, não me sentia assim na minha vida fora dele. Tinha muita dificuldade em me posicionar; era muito tímida e tinha pouca autoconfiança nas minhas atitudes. Comecei a perceber que fui moldada pelo meio que vivia e pelas experiências que tive dentro desse ambiente muito masculino e majoritariamente machista; por isso me calava em situações de desconforto. A partir do momento em que entendi isso, vi que precisava me transformar de dentro para fora. Foi aí a grande virada de chave. Para isso, precisei usar ferramentas de autoconhecimento e inteligência emocional; trabalhar essa força interior me colocou como uma mulher campeã em outras áreas da vida. Consegui enfim me colocar em um relacionamento saudável e realizar o sonho de ter minha família. Tenho certeza de que é dessa forma que as leitoras estão sendo impactadas através do livro.
Exp.: Na Gracie Kore, você oferece um curso de defesa pessoal feminina. O que motivou essa iniciativa e como você aborda a questão da autoconfiança nas aulas?
K.G.: Muitos acham erroneamente que a defesa pessoal é para aprender a brigar e peitar agressores; mas o principal objetivo é fazer a mulher sair ilesa, evitar o conflito e ter autoconfiança. Esse é o intuito do curso de defesa pessoal oferecido online ou presencialmente na Gracie Kore: mostrar na prática como sair de situações corriqueiras que nós mulheres passamos ao longo da vida. Qual mulher nunca acelerou o passo em uma rua deserta ou em um estacionamento? Ou não foi puxada pelo braço por um homem em uma boate ou sofreu uma forçada de beijo? É diferente estar alerta e estar tensa, é isso que procuramos passar para nossas alunas.
Exp.: Você equilibra várias funções, como empresária, professora e mãe de três filhos. Quais estratégias você utiliza para gerenciar seu tempo e garantir que todas essas áreas sejam atendidas?
K.G.: Não é nada fácil conseguir cumprir com excelência todas essas funções; mas quando temos prazer em tudo que fazemos fica tudo mais fácil. Felizmente conto com o Malvino e uma equipe maravilhosa tanto na Gracie Kore quanto em casa para me ajudar a dar conta de tudo. Faço questão de levar meus filhos à escola; do contato direto com meus alunos, ministro aulas, faço questão disso também, adoro passar todo conhecimento que adquiri adiante através das minhas palestras. Enfim, acho que amor ao que faço e disciplina são as chaves desse sucesso. Planejamento é fundamental, ter a cabeça tranquila em relação a errar de vez em quando é normal, depois você reorganiza sem se colocar pra baixo por conta disso.
Exp.: Qual é a filosofia central que você ensina na Gracie Kore, e como isso se reflete na formação dos alunos tanto em termos técnicos quanto de valores pessoais?
K.G.: A filosofia central da Gracie Kore é proporcionar experiências e incentivar uma vida saudável de maneira holística entre corpo, mente e espírito para homens, mulheres e crianças. Usamos a metodologia da minha família mostrando sempre aos alunos a importância da disciplina, perseverança, respeito, confiança em si mesmo, força mental, liderança e valores que se tornaram pilares da filosofia do jiu-jitsu. É incrível ver todo o progresso no dia a dia dos nossos alunos.
Exp.: Você e Malvino Salvador têm colaborado em projetos literários para crianças além de vídeos de conscientização na internet sobre relacionamentos abusivos. Como surgiu essa ideia e qual o impacto vocês esperam ter nas novas gerações com essas iniciativas?
K.G.: A ideia dos livros infantis surgiu ao percebermos que seria uma ótima aliada para as crianças trabalharem sua autoconfiança e inteligência emocional de forma lúdica. Conseguimos isso contando histórias comuns no dia a dia escolar ou familiar dos pequenos. Já publicamos “Um Golpe de Respeito” e “Um Golpe de Equilíbrio” e posso adiantar que vem muito mais por aí! O propósito é levar a filosofia do jiu-jitsu para a vida das famílias, para pensarem nessa atividade como algo positivo para as crianças. Sobre os vídeos sobre relacionamentos abusivos temos o objetivo de alertar mulheres sobre situações semelhantes às quais podem estar passando; embora sejam impactantes, mostram realidades vividas por muitas mulheres.
Exp.: Próximo aos 40 anos, como você avalia sua jornada até agora?
K.G.: Eu me sinto muito feliz e realizada com tudo que conquistei tanto dentro quanto fora dos tatames. Sempre tive o sonho de ter minha família, meu próprio negócio e levar o legado da minha família adiante. No geral, chego aos 40 anos satisfeita com meus erros e acertos, eles foram fundamentais para eu ser quem sou hoje.
Exp.: Você é uma mulher muito bonita, sempre cuidou da parte estética? Compartilhe sua rotina de beleza com nossas leitoras.
K.G.: Eu me alimento de forma balanceada evitando ao máximo industrializados e gordurosos, além disso faço musculação, pratico meditação e respiração, além do jiu-jitsu claro! Como sempre tive uma rotina regrada desde criança – o que pode parecer restritivo para muitos – é normal pra mim! Uma rotina saudável auxilia na parte estética, com ajuda do dermato e alguns procedimentos como botox, ultraformer e sculptra me ajudam também.