
Com uma trajetória sólida e marcada pela versatilidade, Malu Galli se firmou como uma das grandes atrizes do cenário artístico brasileiro. Sua carreira abrange teatro, televisão e cinema, onde conquistou reconhecimento por sua entrega e profundidade em cada papel que interpreta. Desde sua formação na Casa de Arte das Laranjeiras (CAL) até sua presença marcante em produções de sucesso, Malu demonstrou talento e dedicação, transitando com maestria entre comédia e drama.
Seus trabalhos na TV Globo, como Queridos Amigos, Cordel Encantado, Cheias de Charme e Amor de Mãe, deixaram sua marca no público, trazendo personagens complexos e emocionantes. No teatro, brilhou em diversas montagens, consolidando seu nome na cena teatral brasileira. No cinema, seu talento também foi reconhecido, rendendo-lhe prêmios importantes, como o Kikito no Festival de Gramado.

Nesta entrevista, exploramos sua trajetória, inspirações e desafios ao longo dos anos. Malu Galli nos conta sobre sua paixão pela arte, o processo criativo por trás de suas atuações e o que ainda deseja realizar em sua carreira. Confira:
Expressão: Como tem sido interpretar Celina no remake de Vale Tudo (Rede Globo), trazendo uma versão mais atualizada da personagem sem perder sua essência original?
Malu Galli: Acho que a essência da Celina é a delicadeza, a alegria, a amorosidade. Isso é atemporal! Procurei enfatizar essas características na composição dela. Por conta desta delicadeza, ela evita embates que geram desgastes, muitas vezes colocando panos quentes em situações de conflito. Isso não tem a ver com ser de outra época, mas com temperamento, mesmo. Por isso, atualizar a Celina passa mais pela trama dela – agora Celina é uma mulher que se apaixona, que tem desejos e sonhos para além da vida familiar – por isso a necessidade de atualização.
Exp.: A relação entre Celina e Odete Roitman foi aprofundada no remake. Como você trabalhou essa dinâmica intensa entre as irmãs?
M.G.: Procuramos sempre destacar o quão opostas elas são, seja no figurino, no jeito, ou na relação com Heleninha e Afonso. Elas são opostas e complementares e vivem uma relação simbiótica, tóxica. Muita água ainda vai rolar debaixo dessa ponte!
Exp.: A cena da “maionese estragada” é uma das mais icônicas da novela. Você já sabe como será essa sequência no remake, pode nos dar algum spoiler?
M.G.: Não sei, porque ainda não recebemos estes capítulos. Acredito que Manuela deva manter a cena, mas vai ter que adaptar porque hoje em dia, com o celular, tudo mudo. (risos)
Exp.: Em O Xangô de Baker Street (2001), você interpretou Chiquinha Gonzaga, uma figura histórica icônica. Qual foi o maior desafio em dar vida a ela?
M.G.: Fui pesquisar sobre a vida dela, li a sua biografia e fiquei maravilhada com sua história, seu pioneirismo e importância para cultura brasileira. Infelizmente, não se fala muito sobre ela e sua contribuição para a música…
Exp.: Sua estreia na televisão ocorreu com Anos Rebeldes (Rede Globo). Como foi essa transição do teatro para a TV?
M.G.: Em Anos Rebeldes fiz um papel muito pequeno, elenco de apoio, então eu aproveitei para ver os grandes atores trabalhando e aprender com eles. Guarnieri, Wilker, Bete Mendes… Era uma escola!
Exp.: Seu primeiro papel no cinema foi em Policarpo Quaresma, Heroi do Brasil (1998). Como foi essa experiência de entrar no universo cinematográfico?
M.G.: Eu já tinha feito alguns curta-metragens com alunos da faculdade de cinema e também já trabalhava com publicidade que era feita em película, na época, assim como os filmes. Então eu já tinha alguma experiência com o veículo. Mas o Policarpo foi meu primeiro longa, e eu contracenei com Paulo José, o que foi maravilhoso. Me adaptei bem ao cinema, curti de cara o clima do set, a movimentação da equipe.

Exp.: No cinema, sua atuação em 180° (2011) lhe rendeu uma indicação ao Prêmio Guarani de Melhor Atriz. Como foi o processo de construção da personagem Ana nesse filme?
M.G.: A Ana foi um personagem complexo porque o roteiro era todo fragmentado e a história ia se contando como um quebra-cabeças. Ana era enigmática, mas ao mesmo tempo o eixo do filme, o desafio era manter o espectador junto dela, mesmo sem entender suas motivações.
Exp.: Em Mandrake (HBO), você interpretou a advogada Flávia. Como foi trabalhar em uma série indicada ao Emmy Internacional?
M.G.: Foi muito legal fazer Mandrake! Cada episódio era dirigido por um diretor, e pude trabalhar com gente muito talentosa: Claudio Torres, Carolina Jabor, Zé Henrique Fonseca… E também tive o privilégio de estar numa mesa de bar, ouvindo os casos que Miéle contava, assistir as impagáveis imitações do então iniciante Marcelo Adnet, era diversão pura!
Exp.: Além de atuar, você também se dedica à autoria, produção e direção. Como surgiu esse interesse em expandir sua atuação no audiovisual para essas áreas?
M.G.: Foi muito natural! Venho de uma escola de teatro onde pensávamos todos os elementos, os conceitos de cenário, luz, figurino e também criávamos o texto, improvisando na sala de ensaio. Nunca fui uma intérprete, e sim uma criadora, uma parte atuante que contribuía para o todo. Desta forma, desenvolvi desde cedo um olhar para este todo, uma visão mais abrangente para além do meu personagem.
Exp.: Sua estreia como diretora de teatro aconteceu com “A Máquina de Abraçar”, que lhe rendeu uma indicação ao Prêmio Arte Qualidade Brasil. O que te motivou a dirigir pela primeira vez?
M.G.: Eu recebi o texto do José Sanchis Sinisterra e quando li, comecei a imaginar toda a cena, o ambiente em que se passava, a plasticidade. Então compreendi que eu deveria dirigir e não atuar naquela peça.
Exp.: Trabalhar com diretores como Jefferson Miranda e Enrique Diaz no começo da carreira influenciou sua abordagem na direção?
M.G.: Claro! Foram trabalhos muito autorais, muito determinantes para o meu entendimento da cena, foi uma escola para mim.
Exp.: No início da carreira, você conciliava teatro com trabalhos em publicidade para se sustentar. Como foi esse período e quais desafios enfrentou?
M.G.: Eu fazia muita publicidade, em todo o Brasil. Trabalhei com grandes diretores que depois foram para o cinema, Walter Salles, João Moreira Salles, Arthur Fontes, Andrucha Wadington, Murilo Sales, Fernando Meirelles… Ganhava bem, mas, tinha que fazer teste e passar para conseguir o trabalho, toda vez. Passei uns dez anos da minha vida na fila de testes, era duro.
Exp.: Em Amor de Mãe (Rede Globo), sua personagem Lídia teve uma trajetória cheia de reviravoltas. Como foi interpretar esse arco dramático tão intenso?
M.G.: Foi muito bom! Adorei fazer a Lídia. Adoro personagens com grandes arcos e viradas. Gosto de planejar as viradas, pensar nas várias fases que a personagem vai passar, sou uma contadora de histórias.

Exp.: O fato de seu marido também ser artista influencia seu processo criativo? Vocês costumam trocar ideias sobre os trabalhos um do outro?
M.G.: Sim! Bastante. Ele é meu principal interlocutor.
Exp.: Qual foi o maior desafio de conciliar maternidade com uma carreira intensa no teatro, cinema e televisão?
M.G.: Bem difícil. Tive a sorte de poder contar com a minha mãe que é uma avó maravilhosa e me ajudou muito, do contrário, não sei como teria sido. Viajava muito com turnês na época em que ele era bem pequeno. Sofria a cada viagem.
Exp.: Existe algum segredo de beleza que você aprendeu ao longo dos anos e que sempre segue?
M.G.: Acho que o cuidado com a alimentação e a rotina de exercícios. Mas é claro que tem momentos de chutar o balde e curtir um pouco.
Exp.: Há algum projeto pessoal na produção ou direção que você ainda sonha em realizar?
M.G.: Estou com um projeto de teatro e um de show. Espero muito conseguir realizá-los no ano que vem. Como diretora, ainda não sei. Preciso ser atravessada por uma ideia, e a flecha ainda não me alcançou.