Jacqueline Sato

Atriz, apresentadora e ativista ambiental

Como atriz Jacqueline Sato se destacou em diversos trabalhos na televisão, cinema e teatro. Entre os mais recentes estão as novelas “Sol Nascente” e “Orgulho e Paixão”, ambas da Globo, e a série “(Des)Encontros”, do Canal Sony. Em breve, ela estará também em “Os Ausentes”, no streaming HBO Max. Como apresentadora, comanda os programas “Encantadores de Pets” e a série “Bruce Lee: A Lenda”, da Band. Não bastasse todo o resto, ela é também CEO da associação de proteção animal “House of Cats”, instituição que recolhe gatos da rua e é responsável por todos os cuidados até que os felinos encontrem um novo lar. Na entrevista a morena fala sobre carreira, os programas que apresenta na Band, engajamento social e sustentabilidade. Confira!

“Escrever é algo profundo e complexo. Quem escreve sai do zero, tudo sai da mente do roteirista.”

Expr.: Hoje você está no ar como apresentadora. Além do programa “Encantadores de Pets”, você ainda está à frente da série “Bruce Lee – A Lenda” na Band, certo?
J.S.: Sim. Na série eu faço cabeças que entram no início, no meio e no fim, fazendo alguns apontamentos, complementando com dados históricos e fatos emblemáticos. Tenho a ideia de entrevistar pessoas que tenham tido suas vidas transformadas por conta do contato com o Bruce Lee, ou com as artes marciais, afinal, ele foi um dos principais responsáveis pela propagação massiva desta arte pelo mundo. Vamos ver se esse ano a ideia se torna real.

Expr.: Entre seus próximos trabalhos, está a série “Os Ausentes” que estreará no streaming HBO Max. O que pode nos adiantar?
J.S.: Na série, faço a Ayumi, que vai, junto com sua mãe (Cristina Sano), até a agência de investigação para pedir ajuda por conta do desaparecimento do seu sobrinho. Este desaparecimento é que conduz a narrativa deste episódio todo. E a Ayumi tem um envolvimento central na trama. A personagem tem muitas camadas que vão sendo reveladas ao longo do roteiro, que é bem surpreendente. Nada óbvio. É tão bom quando a gente pega trabalhos assim. E este texto unido à direção da Caroline Fioratti e do Raoni Rodrigues, só me traz a sensação de que algo bem especial está por vir. O processo todo, desde os ensaios, foi muito profundo, com muito cuidado e fome de se fazer o melhor.

Expr.: Com a expansão dos serviços de streaming, as séries têm tido cada vez mais espaço. É um formato que te atrai?
J.S.: É um dos formatos que mais me atrai sim, mas gosto de todos os outros. Como atriz, aprendo coisas diferentes em cada formato e veículo que trabalho. Acho que as séries possuem uma estrutura e profundidade únicas, que são um deleite pra nós atores, e para os espectadores também. Conhecemos mais a fundo cada personagem, e acompanhamos o arco, as camadas, todas as pequenas, ou grandes, transformações ao longo dos episódios. Não é a toa que são viciantes. E que as pessoas conseguem maratonar durante tantas horas seguidas. O Robert McKee, que é um dos maiores professores de roteiro, diz que as séries tem se mostrado o supra-sumo da dramaturgia atual. É um formato novo, que consegue desenvolver a complexidade dos personagens e da trama. E quanto mais complexo, mais intrigante e estimulante é para quem faz e para quem assiste.

“Nesta quarentena, além de cuidar da casa, da avó (aliás, que especial que foi essa proximidade e troca), dos gatos, e das demandas de trabalho, eu comecei a estudar japonês.”

Expr.: Por falar em séries, você também colaborou em alguns roteiros da série (Des)Encontros, do Canal Sony, em que você protagonizou um dos episódios. Como foi a experiência de escrever?
J.S.: Já tinha praticado isto durante minha formação em Rádio e TV. Sem dúvidas a profissão do roteirista é uma das que mais admiro neste nosso Universo do audiovisual. Ainda quero me arriscar mais nesta direção, também é algo que sempre me atraiu, mas penso que tenho muito o que estudar e aprender. E pretendo fazer, pelo menos por enquanto, paralelamente ao trabalho de atriz. E uma coisa ajuda a outra. Entender mais sobre a estrutura da história me ajuda como atriz, e já ter dado vida a alguns personagens também colabora na hora de escrever os diálogos, por exemplo.
Posso te dizer que colaborar durante o processo de escrita da série foi um dos maiores desafios que já vivi. Aprendi muito e fiquei com vontade de mais. Escrever é algo profundo e complexo. Quem escreve sai do zero, tudo sai da mente do roteirista. Isto pode parecer libertador, e é, mas ao mesmo tempo não é. Pois também há regras e métodos a serem seguidos. Exige muita pesquisa e trabalho, e trabalho, e trabalho. E tentativa, e erro, e mais uma vez, e haja coragem, porque é uma exposição e tanto. Quando você finaliza, é por que já tentou várias vezes e chegou no seu melhor, que pode ainda ser rejeitado, clichê, ou não. Nós atrizes, temos o texto como um mapa, um guia para então construir nosso trabalho em cima daquilo, o roteirista sai do papel em branco. É fascinante. Eu já tinha noção de que nesta profissão há que se estudar muito, mas depois desta experiência esta noção se multiplicou por 100.

Expr.: Além de atriz, apresentadora, dubladora e ativista, você ainda tem a House of Cats, uma associação de proteção animal que recolhe gatos da rua e cuida até serem adotados. De que forma você vê o trabalho social influenciando na sociedade?
J.S.: Tenho percebido que mais pessoas vem buscando incluir algum tipo de trabalho social em paralelo, ou aliado, às suas profissões. Eu acho isso lindo, e acredito que é uma ótima forma de melhorarmos o que está à nossa volta. Sempre acreditei na eficácia das mudanças que começam do micro e vão se expandindo pro macro, ou seja, comece a fazer algo na sua rua, no seu bairro, encontre uma causa que te faça vibrar e querer agir, e comece. Simplesmente comece a ajudar da forma que você puder naquele momento. Juro, aos poucos você vai conhecer outras pessoas que pensam e sentem parecido. E essa rede vai se ampliando e se fortalecendo até que mudanças maiores possam acontecer. Penso que o mundo anda precisando muito que as pessoas se engajem, e se movimentem em direção às coisas que querem ver transformadas. Afinal, já estamos exaustos de esperar o governo, ou a justiça fazer o que esperamos que façam. Não que não devamos continuar cobrando, pelo contrário, mas acho que quem pode agir, deve agir. E tenho visto grandes resultados da união e ação das pessoas comuns em prol às mais diferentes causas. A pandemia escancarou as diferenças entre as classes sociais, entre quem se importa e quem não está nem aí, as injustiças ficaram ainda mais nítidas, a importância da coletividade nunca foi tão clara, e o quanto uma única pessoa pode fazer a diferença para o bem ou para o mal também ficou ainda mais visível. Espero que cada vez mais a gente possa acreditar e valorizar esse senso de coletividade.

Expr.: Sendo CEO da House of Cats e apresentando o programa “Encantadores de Pets”, que dá visibilidade para animais que estão para adoção, você sentiu que durante a pandemia o número de adoções aumentou?
J.S.: Aumentou sim o número de adoções mas também aumentou muito o número de animais abandonados. Apesar de ser uma alegria saber que muitas pessoas escolheram fazer uma adoção responsável, é triste saber que o número de abandono e de pedidos de ajuda cresceram ainda mais. Muitas pessoas passaram a não ter mais condições financeiras de cuidar de seus animais e, algumas simplesmente abandonam, o que é o mais cruel dos cenários, e outras pedem ajuda aos abrigos, ONGS, e protetores independentes que estão sobrecarregados, lotados e têm recebido cada vez menos contribuição financeira.
Um outro dado alarmante que certamente resultará em ainda mais animais pelas ruas é o fato de muitos locais terem paralizado as castrações, e principalmente os mutirões de castração por conta da pandemia, o que acarretará em mais e mais animais nascendo pelas ruas e se multiplicando rapidamente. Uma protetora parceira nossa nos pediu ajuda para castrar 230 gatos que estão pelas ruas de Itapevi, por exemplo. Ela estava fazendo o trabalho de CED aos poucos, mas o número se multiplicou exponencialmente em poucos meses e agora está assim, nesta situação descontrolada. Iremos encontrar uma forma, mas é importante que os órgãos públicos encontrem formas seguras de continuar oferecendo este tipo de serviço o quanto antes.

Expr.: Como você encarou a quarentena? O que mais aprendeu nesse período?
J.S.: Olha, encarei da melhor forma possível dentro das circunstâncias. Claro que tive esgotamentos emocionais, dias bem difíceis. Mas olhando para trás vejo que consegui executar bastante coisa, e manter a sanidade mental na maior parte do tempo. Nesta quarentena, além de cuidar da casa, da avó (aliás, que especial que foi essa proximidade e troca), dos gatos, e das demandas de trabalho, eu comecei a estudar japonês. Algo totalmente novo pra mim, e que sempre é um dos pontos altos do dia. E acho que o maior aprendizado foi aprender a lidar com a ansiedade, o entender e aceitar o tempo das coisas, o se respeitar, respeitar o seu tempo, suas emoções, suas limitações. Olhar bem pra dentro, rever muita coisa na própria vida e se aproximar cada vez mais do que é essencial, do que mais faz sentido. Viver a simplicidade e a beleza do “um dia de cada vez” e se deparar com algumas boas surpresas, e pequenas coisas as quais sou muito grata. Diante de tanto caos e dificuldade, enxergar as coisas positivas, às vezes, pode ser desafiador, mas busquei entrar em contato com isto diariamente para seguir em frente. Uma prática que eu já tinha começado e que é de grande ajuda durante os períodos mais difíceis é escrever, todas as noites num caderninho, 3 razões para agradecer naquele dia. E outra coisa que sempre me ajudou, e ajudou ainda mais agora foi a meditação. Faço pelo menos 10 minutinhos pela manhã para escutar o corpo, respirar fundo, e deixar o corpo e mente livres para se manifestarem, e aí sim começar o dia.