As aspirações do ator português Ricardo Pereira

Ator português, sucesso na Rede Globo, relembra como foi o seu início de carreira 

O ator português extremamente talentoso, Ricardo Pereira, está há quase 20 anos no Brasil cativando os corações dos espectadores com os seus personagens incríveis.

Ricardo integrou o elenco de quase 20 produções, entre novelas, minisséries, filmes e espetáculos de teatro. Acabou de se despedir do vilão Danilo, em “Cara e Coragem”, novela das 19h da Globo e é pai de três filhos, Francisca, Julieta e Vicente. Confira a entrevista na íntegra sobre sua vida, trabalho e história:

Ricardo Pereira: De uma forma geral, eu comecei a minha formação em teatro, venho do teatro, para além do teatro eu fiz faculdade de psicologia. A atuação acabou acontecendo na minha vida de uma forma supernatural. Acho que as coisas foram acontecendo como tinha que acontecer, mas eu sempre tive muita proximidade com o teatro, sempre foi algo que me encantou, meu pai me levava muito ao teatro e eu sempre gostava de ver, participar como espectador.

Eu também viajei o mundo trabalhando como modelo, então eu sou uma pessoa que ama conhecer lugares e histórias diferentes, aprender sobre realidades e culturas, isso tem muito a ver comigo, com meu DNA.

Quando criança eu me inscrevi em alguns cursos e me encantei, descobri uma paixão e foi por aí que comecei no teatro, em Portugal e logo em seguida veio o cinema e a televisão. Muita gente me conhece pela minha carreira na TV, mas eu também fiz muitos longas e peças de teatro ao longo dos anos, acho que minha vida sempre foi muito de navegar por essas linguagens diferentes e sempre que eu posso construir junto, outros percursos e outras linguagens eu construo.

Foto: divulgação Globo

Expr: No início da carreira, você teve medo, receio de não dar certo?

R.P: Eu acho que todos nós temos medo em alguns momentos da vida, mas isso é a magia, é sinal de que você está arriscando, querendo ir além, querendo fazer algo fora da sua rotina, eu acho isso prazeroso. Claro que é um risco, deixa receio na gente, provoca insônia e pensamentos, mas se a gente deixar de ter isso acabamos caindo em uma rotina que, muitas vezes, não é boa para a gente, é prejudicial, então.

Hoje já sou mais maduro então é diferente, a gente naturalmente sabe que tem coisas que vai funcionar e tem coisas que não sabemos se irá, outras vezes podemos arriscar mais, porque não tem tanto problema nos arriscarmos, já em outros momentos não podemos, então cada momento da vida e cada idade também reflete um estado de espírito, uma emoção e um medo diferente, mas acho que isso é a vida, meu pai sempre me falou isso: “Aqui é uma passagem, a gente tem um início, um meio e um fim é inevitável”. A gente tem que se jogar mesmo, se arriscar e tem coisas que vão dar certo e tem coisas que vão dar errado, mas se a gente não experimentar, não saberemos. Eu não me vejo fazendo outra coisa, eu me vejo talvez produzindo, dirigindo, mas tudo em um universo da cultura, da criação e desse ofício, é mágico, esse medo faz parte.

Expr: E quando chegou ao Brasil, teve alguma dificuldade?

R.P: Não, eu vim fazer um trabalho que na época teve muito impacto, era a primeira vez que um estrangeiro iria protagonizar uma novela, que é algo grandioso no Brasil, a novela faz parte da cultura, é uma instituição, pelos anos todos que tem e pela quantidade de espectadores que tem, então pelas novelas marcantes e que foram exportadas ao longo da história e se tornaram icônicas no mundo inteiro, era uma grande responsabilidade. Até hoje é, e eu vim encabeçar um projeto, era a primeira vez na época, que a Globo tinha um protagonista estrangeiro, era uma grande responsabilidade, além disso a “midiatização” que isso ia ter, o fato de eu virar muito conhecido aqui no Brasil, isso aumentou o grau de responsabilidade, profissionalismo e dedicação, eu era muito novo e felizmente estava rodeado de pessoas supertalentosas.

Quando eu cheguei, eu vim fazer uma novela que tinha duração entre 7 e 8 meses de ensaios, vim passar 8 meses e estou quase 20 anos, acho que isso reflete minha adaptação imediata, o fato de eu me sentir completamente em casa, de eu me sentir super acolhido profissionalmente e pessoalmente, isso foi fantástico, eu me senti em casa, é como se em outro momento eu já tivesse passado e vivido por aqui, como se fosse tudo familiar, foi tudo fundamental para minha adaptação e minha alegria.

Bob Wright ( Kiko Mascarenhas ) e Danilo ( Ricardo Pereira ) | Foto: divulgação Globo

Expr: Tem algo que mais sente falta de Portugal?
R.P: Eu quando vim era mais novo, agora tenho 43 anos, vai fazer 20 anos que estou aqui e, naturalmente, cada fase é uma fase, eu vim muito focado em fazer um bom trabalho, em querer aprender, descobrir um novo jeito de trabalhar, em uma casa que é muito reconhecida em Portugal, as novelas e as séries, a cultura brasileira sempre chegou com muita força em Portugal, então obviamente eu vim muito para trabalhar, descobrir e viver experiências.

Por conta do trabalho que eu tinha na época que eu era protagonista, deixei de ver algumas pessoas da família e amigos que cresceram comigo, deixei de ver com certa regularidade e como eu já estava muito acostumado, já tinha vivido por muitos países e familiarizado a esse processo de não ser tão apegado à família e amigos. Acho que é isso que você mais sente falta e saudade, embora, quem me conhece sabe, eu sou aquela pessoa que tem amigos em cada lugar do mundo, eu sou muito de me dar com as pessoas, de trocar, eu gosto de pessoas, eu amo aprender e falar com pessoas, então eu acabo fazendo amigos em todo lugar, naturalmente com o tempo esses amigos viram família, amigos que cruzam com você ao longo da vida que você vai trocando e tendo relações, se ajudando, viram família também.

Expr: E sobre os filhos, como foi o nascimento deles aqui no Brasil?

R.P: Foi uma escolha nossa, era o lugar que fazia sentido nossos filhos nascerem, nossa história de casal também aconteceu majoritariamente no Rio e no Brasil, então para gente fazia sentido que eles nascessem aqui. Foram momentos lindos, acho que o nascimento é sempre um momento muito belo, você gerar vida, você ver a vida sendo gerada dentro de uma barriga, acompanhar isso eu achei extraordinário, até hoje quando falo isso, acho lindo, nascer uma pessoa dentro de outra, acho incrível.

A Francisca amou estar grávida, lembro de olhar para ela e falar “Amor não é possível que tenha um ser humano aí dentro”, eu fico de “boca aberta”, acho isso a magia da vida, a capacidade de gerar uma vida é incrível e lindo de ver isso acontecer.

Foto: divulgação Globo

Expr: Como você compartilha os cuidados com a Francisca?

R.P: A gente tem muito isso, essa parceria de casal, nunca teve aquele: “Você faz isso e eu faço aquilo”, não, cada um faz o que pode e a gente se completa muito, tanto hoje na vida, tanto quando eles nasceram, claro tem coisas que só ela pode fazer, mas tudo que dava pra ser compartilhado a gente se ajudava, e é assim até hoje, as vezes quando ela está mais pilhada no trabalho eu falo olha já levei os meninos na escola, ajudo os meninos nas atividades, sempre ajudo nas tarefas escolares, levar em alguma festinha de algum amigo, comida, banho, não tem  uma norma,  a gente passa muito isso aos nossos filhos de sermos uma família muito orgânica, todo mundo serve para ajudar em tudo.

Expr: Recentemente, você e sua esposa anunciaram que vão renovar os votos em 2023, pode dar spoiler para nós de como andam os preparativos?

R.P: Andam meio bagunçados ainda, a gente celebrou mais um ano de casados, e eu tinha avisado Francisca que tinha feito uma surpresa para gente ir ao Cristo, e ela me surpreendeu nessa ida ao cristo com um outro pedido de casamento, o primeiro eu que fiz, e agora foi ela quem fez, com uma outra aliança. Assim surgiu essa ideia, por várias razões eu não celebrei os meus 40 anos, por conta da pandemia, agora a Francisca vai fazer 40 anos e a gente faz 13 anos de casados, 13 é um número que a gente gosta muito e tem acompanhado a nossa vida, então a decidimos celebrar, com amigos próximos e também fazer uma mini cerimônia por conta dos nosso filhos entenderem também, quase que para reviver aquilo que a gente viveu, só que agora eles estão lá, eu acho bacana eles estarem lá com a gente e verem como é essa festa do amor.

Danilo (Ricardo Pereira) e Rebeca (Mariana Santos) Foto: divulgação Globo

Expr: Você já fez personagens bonzinhos e, recentemente fez um vilão em Cara e Coragem (Globo). Como você se prepara para interpretá-los?

R.P: Eu sempre pergunto, qual o objetivo desse vilão? Porque eles sempre têm algum objetivo diferente, a gente tem que entender o porquê do vilão ser assim, para poder construir um vilão diferente, dá a oportunidade de construir vilões muitos diferentes e muito humanos.

Expr: Tem algum projeto profissional para este ano de 2023?

R.P: Além da televisão estou lendo muita coisa do cinema e estou começando a trabalhar em alguns projetos meus que estou desenvolvendo como produtor e desenvolvedor, acho que vem muita coisa boa para o ano de 2023, uns para eu atuar, outros para dirigir e também para desenvolver como produtor.